A discussão acerca dos saberes sobre a diversidade de orientação sexual foi fomentada, no Brasil, a partir dos anos 1970, quando se dá início a mobilização de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - LGBT em busca de seus direitos, de sua cidadania.
Esse movimento sai dos guetos, no Brasil e no mundo, começando a ocupar cada vez mais espaço na vida pública e social, fortalecendo e abrindo canais de comunicação e interlocução social e política. As Paradas são uma das estratégias empreendidas nesse cenário.
No Brasil, as ONGs LGBT realizadoras das Paradas, têm a liberdade de intitulá-las de acordo com sua visão política do evento, “Parada Gay”, “Parada LGTB”, “Parada do Orgulho Gay” e “Parada pela Diversidade Sexual” são algumas das denominações mais adotadas.
Realizadas pelo movimento LGBT em vários países do mundo, as paradas fazem referência ao dia 28 de junho, Dia Mundial da Consciência Homossexual. Isso porque, na década de 1960, um bar freqüentado por homossexuais Stonewall, em São Francisco (EUA), era alvo de batidas policiais sem justificativas.
No entanto, em 28 de junho de 1969, os/as homossexuais resolveram revidar aos abusos dos policiais e travaram, durante 3 dias, um conflito de resistência. Algumas pessoas morreram e a partir daí os/as homossexuais adotaram essa data como Dia da Consciência Homossexual. Daí em diante, esse dia é lembrado na realização de Paradas e outros eventos, onde os LGBT vão às ruas reivindicar direitos e celebrar a cidadania.
As Paradas inovam pelo estilo festivo, peculiar e original, diferenciando-se das demais manifestações políticas realizadas por outros movimentos sociais. Desprovidas de ritos e fronteiras, tem conseguido dar visibilidade às demandas e lutas LGBT e incluir nas agendas junto à sociedade o debate sobre os direitos sexuais e a livre orientação sexual enquanto direito humano.
No Brasil, as Paradas se disseminaram inicialmente nas capitais dos estados e, com a crescente participação e aceitação da população, estenderam-se ao interior do país com maior intensidade. Hoje, mais de 100 Paradas são realizadas anualmente e a “Parada Gay” de São Paulo, considerada a maior do mundo em participação, chegou a aglomerar aproximadamente um montante de mais de três milhões e meio de pessoas na Avenida Paulista em 2009.
O fenômeno das Paradas no Brasil tem provocado/instigado reações diversas, tanto a favor como contra sua legitimidade enquanto mobilização política e social. O primeiro aspecto que entra em questão é o seu caráter político, este, comprometido, obviamente, pelo estilo festivo, descontraído e ousado, para não dizer provocativo. Tal comprometimento deriva, talvez, de uma visão distorcida do que seja “política”, ou melhor, participação política, para nossa sociedade.
O que seria, de fato, uma manifestação política? O que descredencia as Paradas enquanto um ato político?
O segundo aspecto passa pela crítica à copilação do evento pelo mercado. Um exemplo é o excessivo destaque dado pela mídia nacional, aos lucros financeiros que a cidade de São Paulo tem recebido em decorrência da “Parada Gay”; dos “Quatrocentos mil turistas!” que lotam o mercado hoteleiro aos inúmeros objetos em referência à homossexualidade, vendidos por milhares de camelôs nas ruas paulistanas.
Tal copilação não se restringe apenas ao mercado do capital, estendendo-se à arena politiqueira na caça ao voto pink, empreendidas pelos tradicionais (alguns petistas) e novíssimos “adeptos” (alguns tucanos) às causas LGBT.
Às vezes, fico a pensar sobre o que pode está por trás deste confronto de opiniões: Ora... Ora..., imagino eu, talvez as lupas com as quais analizamos as Paradas estejam conduzidas pelo confronto entre o conservadorismo ocidental cristão e o progressismo pós-moderno, pós-estruturalista, da sociedade do espetáculo. Este confronto pode dificultar nossa compreensão sobre as contradições existentes na tentativa de publicizar o que tradicionalmente pertence ao privado - o sexual -, em sua versão mais indesejada: a do “profano”, do “pecado da carne”.
De fato, as Paradas transformam-se, ou tranformaram-se, em guetos públicos, num exemplo típico de tolerância social, em nome dos louros que se ganha com a “bondosa” permissividade da celebração do profano em via pública.
Mas é neste espaço, demarcado, delimitado, copilado, que os sujeitos, (conscientes ou não de sua ação política) ensaiam a possibilidade de expressão e participação social, caracterizados pela ânsia de diferenciar-se/distanciar-se do permitido, do que está posto pelas “verdades” sobre o sexual, por meio da extravagância do exótico, do excêntrico, nos “excessos imorais”, (criticados pelos observadores mais tradicionais).
Assim, é na tentativa de afirmar, certamente, o não permitido fora daquele momento-espaço, que se provoca a exteriorização dos confrontos que guardamos conosco. Tornar-se assim a sexualidade pública, explícita, nua, em suas mais tênues e paradoxas possibilidades. Poderiam as sexualidades tornar-se pública de outra maneira?